Em Igreja. Na Comunidade.

Quarta-feira, 22 de Abril de 2009
Páscoa na Ressaca!

P. Jorge Brites na Amazónia

 

Páscoa na Ressaca!

 

À primeira vista, parece uma Páscoa um pouco estranha! Mas não é.

Ressaca, é uma das mais de setenta comunidades ribeirinhas que actualmente estou a visitar, que se encontra junto ao Rio Madeira, no Estado da Amazónia.

Destaco esta comunidade por ter sido nela que celebrei a Festa da Páscoa. É uma das comunidades mais pobres devido à situação em que se encontra: uma zona alagada, onde só é possível andar de barco; as condições higiénicas são muito más, pois tudo é deitado nas águas, tornando-as águas muito sujas com todo o tipo de insectos.

Estas condições são maravilhosas para se desenvolver doenças como a malária e viroses. Ouvindo algumas crianças é incrível o que elas sofrem com as febres da Malária. Uma delas dizia-me:  “Padre este ano já é a 4ª vez que pego a malária!”.

O nosso trabalho como missionários nestas comunidades é mais de visita e de estar com as pessoas. Tentamos ser a voz destes povos que não têm vez e que raramente saem das suas comunidades. Nós, ao chegarmos à cidade tentamos falar com os responsáveis políticos, mas nem sempre conseguimos resposta positiva dos governantes pois alegam não ter condições financeiras para poderem ajudar estas minorias.

Um dos pedidos destes povos é que consigamos professores. Algo muito difícil devido às exigências governamentais e à total falta de condições e incentivos dados aos professores.

Já em África, recordo que os professores eram verdadeiros heróis: salários miseráveis, longas viagens em condições muito difíceis, crianças sem material nenhum escolar, muitas doenças de malária e viroses, etc.

Na semana passada quando entrávamos na plataforma de camião para atravessar o Rio Madeira, vários professores me pediram boleia para irem para o km 150, ou seja, a 150 km dali da cidade. Eu respondi que sim, mas que só tinha a carroçaria para eles viajarem e que estava a chover muito!

Fizeram todo este percurso debaixo de muita chuva e com muitos saltos! . Desceram do camião e lá foram a pé mais uns quilómetros em estrada de terra cheia de lama.  Chegam à escola ao meio dia, dão 5 horas de aulas e de novo voltam à estrada principal, já de noite à espera que passe de novo um camião que lhes dê uma boleia! Se passar algum camião!

Isto sim é ser-se herói. Muitos professores fazem-no porque amam muito o seu trabalho e têm pena das crianças, que são sempre as vítimas.

Ao chegar no dia de Páscoa a Ressaca, primeira vez que um padre veio ali celebrar esta Festa, logo as crianças me vieram pedir que lhes trouxesse um professor, pois estavam há mais de dois anos à espera que ele chegue!

Noutras comunidades, estão há três anos a tentar completar um ano escolar, pois os professores tentam ir, mas muitos não conseguem aguentar. Fazem dois ou três meses de aulas e desistem. E só no ano seguinte é que outro corajoso volta a tentar e fica mais uns dois ou três meses. E assim por diante. É preciso vários anos para conseguir completar um ano escolar!

Enfim, autênticos missionários, como eles dizem de nós. É de facto difícil trabalhar-se nestes meios, mas quem o faz por amor as dificuldades tornam-se mais leves. Recordo que as minhas primeiras duas semanas neste trabalho também foram de muito sofrimento e vontade de desistir.  O meu corpo, com tanta bolha e feridas que os vários insectos nos provocam pareciam um autêntico Cristo flagelado! Depois as condições onde dormimos, nestas casas flutuantes em cima de águas muito sujas ou então casas em que por baixo moram os porcos e as galinhas que nós vemos entre as tábuas, debaixo de nós!

A maioria das comunidades não tem energia eléctrica, não há água potável, as comidas deixam-me o estômago sempre azedo! Quase só como arroz branco! Já cheguei aos 74 kilos, para quem há dois anos atrás tinha 114 kg não está mal!

Agora que já começo a estar habituado dou graças a Deus por este trabalho maravilhoso

Vou ficar por aqui. Peço que vos lembreis de mim nas vossas orações. Eu sempre vos tenho presente na Eucaristia que diariamente celebro no meio destes povos ribeirinhos. Um abraço a todos deste irmão e amigo – P. Jorge Brites



publicado por Padre às 00:02
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